05 Razões porque a vitória da ADURN no plebiscito realizado na UFRN no dia 12 de junho é na essência uma derrota, que deve nos animar para o fortalecimento de nossa capacidade de resistência e luta:



1. A ADURN poderia até comemorar se o plebiscito fosse resultado de um amplo debate democrático com possibilidade de discussão sobre os dois pontos fundamentais da pauta que mobiliza a greve na maioria das universidades federais do país: reestruturação da carreira docente e condições de trabalho. Ao contrário disso, no dia 06 de junho a assembleia Geral (AG) foi convocada a partir da participação e exigência política da oposição. Apostando no imobilismo sindical e no isolamento da UFRN do restante do Brasil, cancelaram o direito à voz de estudantes, professores substitutos e professores não sindicalizados. Apesar disso, conseguimos aprovar por maioria o apoio à greve na referida assembleia.

2. Protagonistas de um anti-movimento docente, a ADURN contrariando a maioria das análises em nível nacional e local sobre o esgotamento das negociações com o governo, tornou-se defensora radical dos interesses governamentais em detrimento da defesa dos interesses dos professores frente às condições de trabalho e carreira docente. Supondo estarem na “ilha da fantasia”, tentam de modo patético isolar a UFRN da mobilização nacional e convencer a comunidade acadêmica de que aqui não há problemas. Na AG contrariaram sem problema nenhum a base da categoria numa total demonstração de insensibilidade política e autoritarismo de direção. O plebiscito é o trunfo que apresentaram porque sabem que após anos e anos sem debate e fora da mobilização nacional, parte da UFRN internalizou a ausência da luta como destino. Plebiscito sem debate e sem a participação de todos os docentes que fazem a universidade não é instrumento legítimo de democracia. Neste país sabemos muito bem que muitos dos procedimentos democráticos como eleição e outros são utilizados, muitas vezes, para manter tudo como está na ilusão da participação.

3. Sem debate e silenciando parte dos docentes e estudantes, este plebiscito mostrou o destempero político de uma direção que perde progressivamente base real e no desespero reproduz panfletos acusatórios despossuídos de qualquer reflexão política séria. Por acaso alguém soube que a sede da ADURN foi atingida por vândalos, como eles anunciaram? Ao invés da ADURN zelar pela condução do plebiscito e se constituir espaço de debate e de luta política, fomos recebidos com seguranças como se pensar diferente fosse um crime. Os seguranças foram pagos para conter os estudantes, que estavam ali junto com os professores para acompanhar os resultados do “democrático plebiscito”. Na AG os estudantes compareceram “ferozmente armados com cartazes feitos a mão”. A ADURN não sai vitoriosa nesse plebiscito porque não nos calamos diante de práticas autoritárias. Somos favoráveis ao debate plural, com direito a voz e respeito a todos que cotidianamente fazem esta universidade: estudantes,funcionários, professores substitutos, não-sindicalizados e sindicalizados.

4. O plebiscito é uma pseudo vitória porque mostrou a disposição da ADURN para o isolamento quando na maioria das universidades os professores estão na luta. Submissa ao governo, a ADURN foi incapaz de agir com sensibilidade frente aos anseios de sua base que ávida pelo debate foi constrangida a acatar 10 inscrições apenas durante a AG. Aceitamos esta imposição porque eles só queriam um motivo
para encerrar a assembleia. Plebiscito sem debate só promove a reprodução do individualismo. Cada um vota sem compartilhar opiniões, sem analisar as diferentes propostas. Assinalar sim ou não, não possibilita reflexões sobre a complexidade da conjuntura atual e a situação concreta da educação e de todo o processo de negociação e luta vivenciado por professores, estudantes e funcionários em nível nacional. E assim a ADURN faz coro com a desinformação e dissemina que greve no final do semestre é inviável, esqueceu, por certo, de comunicar a comunidade acadêmica que somente a atual diretoria é responsável por isso. Todas as demais universidades federais entraram em greve no início de maio após discussões em assembleias.

5. A ADURN não apresentou nenhuma estrutura minimamente séria na realização do plebiscito. Mesários verdadeiramente adestrados para avançar nos professores da oposição e tratá-los com desrespeito. Ninguém que pensa diferente da ADURN pode perguntar nem ter dúvidas. Urnas inseguras com lacre inapropriado e transportadas de modo inadequado. Encerramento de algumas urnas antes do tempo acordado.

Não tenho dúvida que eles sabem que não devem comemorar. Não são bobos. Estão entendendo que depois de anos de disseminação de pragmatismo na política e de defesa de um sindicalismo burocratizado, há práticas emancipatórias vivas na UFRN. Há pensamento crítico e disposição de luta. Sigamos na luta... Calúnias e injúrias contra nós eles estão espalhando em toda parte. Não têm argumentos fundados na grande política. Nós estamos recomeçando a organizar a voz da resistência. O ruído se fez ouvir: a UFRN não é uma “ilha da fantasia” nem a ADURN NOS REPRESENTA. E seguimos na defesa intransigente da universidade pública: todo apoio a greve nas universidades federais.

Natal, 13 de junho de 2012
Silvana Mara
Profa Dra. Departamento de Serviço Social da UFRN

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