Em maio deste ano, docentes das
Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) espalhados por todo o país,
iniciaram um movimento grevista em resposta a intransigência do governo que vem
protelando há mais de ano a negociação das pautas de um projeto de carreira
docente e a discussão salarial em acordo com tal projeto. O movimento, que já
dura um mês, ganha força a cada dia com a adesão de mais universidades (que já
somam 57 unidades), além das adesões dos servidores técnico-administrativos em
42 delas, e dos estudantes em cerca de 37 instituições, que adicionam às pautas
já existentes as suas próprias reivindicações e críticas às políticas do
governo que se nega a garantir o mínimo de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) à
Educação, e ao modelo de (contra)reforma universitária que este vem promovendo
e que estimula o mercantilismo educacional em detrimento do ensino público.
Diante desse cenário, e da imobilidade
proposital da Associação dos Docentes da UFRN (ADURN) que evitou ao máximo esse
debate na nossa universidade, alguns professores tomaram à frente promovendo
uma livre discussão no Centro de Convivência da UFRN pressionando a associação
chamar a Assembleia Geral (AG). Após essa discussão a ADURN convocou AG para a
data de 06 de junho (quarta-feira, véspera do feriado de Corpus Christi), no
auditório do Centro de Educação (CE). Nesta oportunidade transpareceu a razão
de tal atraso: a diretoria da ADURN se posicionou contra a deflagração da greve
dos docentes na UFRN, e usou de todas as manobras possíveis para conseguir esse
resultado. A começar, impediu o direito de voz aos professores não sindicalizados,
usou da condição de dirigentes da mesa para defender posição contra a greve, postou-se
também contra as manifestações dos estudantes na tentativa de minar o apoio que
prestavam aos professores em decidir pela greve, e recusaram a decisão de
aderir à greve ou não através da AG, evitando a apresentação e defesa de
argumentos, o embate amplo das ideias e o voto aberto, optando pela falsa
democracia do voto em plebiscito, marcado para ocorrer no dia 12 de junho.
Após a Assembleia Geral não houve
muito tempo para defesas de posições, pois o feriado promoveu o esvaziamento da
universidade na sexta-feira (08 de junho), seguida do fim de semana,
logicamente, restando apenas a segunda-feira (11 de junho) para uma eventual
mobilização no Campus universitário.
Nos ambientes virtuais, porém, as
manifestações foram intensas. Um grupo formado por professores e estudantes criaram
um clima favorável à greve com mensagens de apoio compartilhadas por pessoas de
toda parte do país, e disseminando textos argumentativos. Enquanto isso, um dos
membros da diretoria da ADURN, publicava em rede social diversos insultos dirigidos
principalmente aos estudantes que participaram da AG, intencionando desmerecer
a opinião que defendiam.
Na véspera do plebiscito foram fixados
faixas e cartazes e distribuídos folhetos por todos os setores do Campus
central, convidando os professores a votar no plebiscito, e na medida do
possível, feita passagem em sala de aula com o mesmo intuito de mobilização.
A ADURN também mantinha-se ocupada. Em
reunião fora tirada a comissão que coordenaria o plebiscito e a apuração dos
votos, e mesmo contra os protestos de diversos colegas ficara decidida a
validação apenas dos votos de professores sindicalizados, negando, portanto, o
direito de voto aos demais colegas da categoria, forçando a sindicalização
imediata daqueles que insistiam em prestar seu voto. Além dessas condições,
fora convocada também pela direção da ADURN a equipe de mesários que prestariam
serviço durante o plebiscito, treinada para acatar as ordens da direção e
somente desta, retirando a autonomia da comissão. Além do comportamento
tendencioso dos mesários, também era visível a fragilidade do trabalho
artesanal das urnas de votação, não sujeitas às condições mínimas de segurança
e responsabilidade que a questão exigia.
No corpo discente a despolitização do
debate foi hegemônico, na verdade, sequer houve debate. O Diretório Central de
Estudantes (DCE) somente convocou Assembleia Geral dos estudantes dia 11 de
junho (véspera do plebiscito) com data de realização a 14 de junho (após
resultado do plebiscito) no auditório do DCE (que tem capacidade para no máximo
80 acentos), sob pressão das bases que publicaram na página da entidade no Facebook uma carta de protesto exigindo
a convocação da mesma. A divulgação da AG dos estudantes foi feita apenas através
das páginas virtuais do DCE no Facebook
e no blog, tornando também evidente
sua indisposição em mobilizar as bases e promover a discussão sobre a greve. Na
data estipulada, com o resultado do plebiscito decidido em não aderir à greve,
apesar da pouca representatividade desse veredito, a participação do alunado na
AG foi inferior ao quorum mínimo (que é de 5% da participação eleitoral na
última eleição, o que soma cerca de 125 alunos) exigido para sua validação, não
legitimando poderes deliberativos à reunião, que encerrou-se sem chegar a lugar
nenhum por falta de consenso.
Insatisfeitos com as manobras
burocráticas, arbitrárias e antidemocráticas das direções dos organismos (ADURN
e DCE) que deveriam ser representativos – mas que ao contrário, boicotam os
movimentos das bases, servindo antes de escudos em defesa das políticas
privatizantes do governo federal – parte de professores e estudantes ainda
mantêm-se organizados em um grupo que compreende a diversidade dos sujeitos da
comunidade acadêmica em um movimento de ideias combativas que buscam ainda
promover o debate sobre a greve nacional da educação, o papel da universidade
brasileira e suas condições de atuação, mantendo a resistência e luta dos que
prezam por uma universidade pública e gratuita, para que o cenário adverso à
esta causa na UFRN possa ser modificado.
Some-se a esta luta!
Assembleia Nacional de Estudantes - Livre [Anel]
Corrente Proletária Estudantil
Coletivo de Resistência e Luta da UFRN: em defesa
da educação pública
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